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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Da paralisia à paralisia geral

Por Maíra Kubík Mano
11/07/2013

Reforma agrária, reforma urbana, reforma política. Transporte, educação e saúde públicos e de qualidade. Democratização dos meios de comunicação. Redução da jornada de trabalho. Com essas pautas, MST e CUT, entre muitos outros movimentos e centrais, ocupam as ruas e estradas no Brasil. Nós poderíamos estar nos anos 1980. Mas não. Hoje é 11 de julho de 2013.

Já se passaram três décadas e as reivindicações continuam muito, muito semelhantes. A diferença é que há tempos não se via uma mobilização tão grande vinda desses atores e atrizes políticos. Muitos estavam paralisados, anestesiados, calados ou simplesmente em dúvida sobre o quanto poderiam pressionar o Estado diante de um governo do PT, nascido na mesma época e do mesmo caldo político que eles. Várias lideranças foram para a institucionalidade e o que se fazia nas ruas, passou-se a se prometer fazer por dentro dos gabinetes. Uma outra parte, insatisfeita, saiu, colocou-se fora de tudo isso, mas tampouco conseguiu organizar algo que tivesse muito impacto. Também surgiram pautas comuns, é verdade, como o Fora Feliciano, mas nada que agregasse tanta gente.

E assim seguíamos, nesse vai-não-vai, até que pessoas que cresceram em uma época onde Lula e Dilma eram a situação, e não a oposição, ganharam o apoio de setores da sociedade brasileira com sua luta pela redução das tarifas de ônibus e metrô. E levaram milhões a protestar.

“Quem são xs participantes?” “Quem são as lideranças?” As perguntas às quais todxs estávamos acostumados pareciam não servir mais. Tampouco o modus operandi. O Movimento Passe Livre não sabia exatamente quantas pessoas iam aparecer em cada ato pelo simples fato de que eles eram apenas o ponto nodal de tudo que estava acontecendo. Não eram um movimento com milhares de filiados, carteirinha e mensalidade. Eram a fagulha, o lugar onde as insatisfações pareciam se encontrar para, logo em seguida, dispersar de novo. Os R$ 0,20 atuaram como momento de confluência. O resto, as pessoas trouxeram de livre e espontânea vontade. Essa, aliás, é a grande riqueza das primeiras mobilizações: ser imprevisível.

Lembro-me de uma representante do MPL em um debate recente em São Paulo dizendo que elxs trabalhavam de maneira não hierárquica, horizontal. Rizomática, eu diria. E, consequentemente, elxs nunca poderiam dizer o que o outro faria, quem participaria etc. Na mesma discussão, havia um rapaz de uma corrente interna ao PT falando da necessidade de “organizar” e “unificar” os movimentos. Pareciam mundos opostos: enquanto uma queria espalhar-se como um vento ou uma plantação de erva daninha, onde é impossível saber onde começa e onde termina, o outro queria juntar tudo num mesmo lugar, de uma mesma maneira, afirmar o que é e para onde vai a esquerda.

Hoje, o caráter dos atos se assemelha mais a essa segunda proposta. Sabemos exatamente quem são os atores e atrizes políticos. A lista de reivindicações, como eu disse no começo do post, é uma velha conhecida nossa. À ela se somam outras, também não tão novas assim: contra a repressão e a criminalização das lutas e dos movimentos sociais; contra o genocídio da juventude negra e dos povos indígenas; contra a impunidade dos torturadores da ditadura; contra a aprovação do estatuto do nascituro, da redução da maioridade penal e do projeto de “Cura Gay”.

O quanto elas vão ecoar na população, eu não sei. Tenho muitas dúvidas se esse método de luta que nos acostumamos a usar, a greve geral, é atualmente a melhor alternativa. Por vezes, me parece uma maneira de limitar, mais do que expandir. Também me questiono se colocar muitas propostas amarradas de uma vez só funciona ou confunde mais.

Mas o fato é que o país está mobilizado e a adesão das centrais sindicais e dos movimentos sociais vêm reforçar esse momento. O Brasil não vai parar. No próximo período, a tensão será permanente. As pessoas sentiram de novo o gosto de ir para as ruas, de atuar politicamente, de querer mudar o mundo. Espero que consigamos nos manter plurais, abertos, transformadores. Trazer novos e velhos atores e atrizes políticos. Que sejamos livres de todas as catracas que impedem nossa caminhada.

Fonte: Território de Maíra

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