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quinta-feira, 18 de julho de 2013

Chegou cedo, José

Desenho: www.snpcultura.org

Rubens Mascarenhas*
Abri uma brecha em mim mesmo
E transpus-me.
O sol queimou forte meu rosto
E sereno falou:
Vai tarde, José!

Fingi não escutar,
Lancei a mochila nas costas,
Alcei um olhar displicente
E apressei o passo.

Em todas as esquinas por onde passava
O mundo inda era o mesmo:
A fome soçobrava o operário,
A exploração o seu salário,
O capital o seu coveiro.
A liberdade, vigiada,
O amor, velha piada,
A repressão vinha primeiro.
O humano, ser não-livre,
Em tal mundo não se vive,
O outro é nosso próprio cativeiro.
A palavra, quase muda,
Meu poema rogando ajuda,
Pobre e velho seresteiro.

Vida maldita e sofrida
Permeada de MAL-ME-QUER...

- Chegou cedo, José!

*MASCARENHAS, José Rubens. Canibal de mim mesmo. Bahia: Edição do Autor, 1994, p. 14."

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