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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Alckmin institui 'gabinete antiprotesto' em SP

Só falta dizer onde ele se inspira: vou apostar no SNI (Serviço Nacional de Informação) da ditadura militar.

Secretário de Cultura, Andrea Matarazzo discute com manifestante
 em evento em SP; Alckmin não foi ao local.



O Palácio dos Bandeirantes passou a monitorar manifestações organizadas nas redes sociais para evitar que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) seja alvo de protestos em agendas públicas, informa reportagem de Daniela Lima, publicada na Folha desta terça-feira (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).
Nos últimos seis dias, Alckmin não foi a dois eventos em que sua participação estava prevista. Ambos foram marcados por atos contra o governo, detectados antes pelas cúpulas da Casa Civil e da Comunicação do Palácio.
Em nota, a assessoria de imprensa do governo negou que Alckmin tenha cancelado as agendas. "A hipótese [de que Alckmin está evitando protestos] é um desrespeito à história do governador e uma tentativa de travestir grupelhos truculentos de movimentos democráticos", finaliza a assessoria do governo.
Fonte: Folha

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

"Vence mais uma vez a política do coturno em prol do capital"

O protesto dos cineastas contra a “política do coturno”
por Paulo Preto, via e-mail
Discurso de diretora premiada por ocasião da cerimônia da entrega do "Prêmio Governador do Estado para Cultura 2011", Juliana Rojas, surpreende o público, em pleno Palácio Bandeirantes, no qual se protestou contra a repressão da PM contra moradores do Pinheirinho.
O filme Trabalhar Cansa, dos diretores Juliana Rojas e Marco Dutra, conquistou o Prêmio Governador do Estado para Cultura 2011, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, na categoria Cinema. O que não estava no script é que Juliana e Marco, no discurso protocolar de agradecimento ao receber o prêmio, lessem um manifesto, de cerca de três minutos, denunciando os episódios deploráveis ocorridos na USP, na Cracolândia e no Pinheirinho, em que a PM paulista agiu com violência contra a população. No começo a audiência tucana ficou calada, mas depois começaram vaiar para tentar acabar com o ato.

O texto lido por eles, conforme transcrição do Victor Furtado:

“Moção de repúdio à política do coturno em Pinheirinho

De um lado, pelo menos 1.600 famílias que lutam pelo direito de morar no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), ocupação que tem oito anos de existência. Do outro, mais de 2.000 policiais militares e civis cumprindo ordens da Justiça Estadual e da Prefeitura de São José dos Campos, em favor da massa falida da empresa Selecta, pertencente ao mega-especulador Naji Nahas. Ainda que não houvesse outras circunstâncias agravantes no caso, já seria possível constatar que as instâncias dos poderes executivo e judiciário fizeram a opção, em Pinheirinho, pela lei que protege a especulação imobiliária, em detrimento do direito das pessoas à moradia. Vence mais uma vez a política do coturno em prol do capital.

De um lado, bombas, armas, gases, helicópteros, tropa de choque. Do outro, dois revólveres apreendidos. Não há notícia de que tenham sido usados. Uma praça de guerra é instalada – numa batalha em que um exército ataca civis. Não há plano de realocação das famílias. As que não conseguiram ou não quiseram fugir, ou receberam dinheiro para passagens para outras cidades, ou estão sendo mantidas cercadas, com comida racionada, como num campo de concentração. A imprensa não pode entrar no local, não pode fazer entrevistas, e os hospitais da região não podem informar sobre mortos e feridos. O que se quer esconder? O Governo do Estado lavou as mãos diante do caso, assim como o Superior Tribunal de Justiça. O Governo Federal tardou em agir. A chamada “função social da propriedade”, prevista na Constituição Brasileira, revelou-se assim como peça de ficção, justamente onde a ficção não deveria ser permitida.

Mais uma vez, o Estado assume o papel de “testa de ferro” para as estripulias financeiras da “selecta” casta de milionários e bilionários. A política do coturno em prol do capital vem ganhando espaço. Assim está acontecendo na higienização do bairro da Luz, em São Paulo, preparando-o para a especulação imobiliária; assim vem acontecendo na repressão ao movimento estudantil na USP, minando a resistência à privatização do ensino; assim acontece no campo brasileiro há tanto tempo, em defesa do agronegócio. Os exemplos se multiplicam. E não nos parece fato isolado que, hoje, a quase totalidade dos subprefeitos da cidade de São Paulo sejam coronéis da reserva da PM. Nós, trabalhadores artistas, expressamos nosso repúdio veemente a esse tipo de política. Mais 1.600 famílias estão nas ruas: a lei foi cumprida. Para quem?”

Mudança de Conjuntura???

John Kennedy Ferreira*

“Mas Bonaparte que se apresenta em público, perante os cidadãos, com frases oficiais sobre a ordem, a religião, a família e a propriedade, trazendo atrás de si a sociedade secreta dos Schufterle e Spiegelberge, a sociedade da desordem, da prostituição e do roubo – esse é o verdadeiro Bonaparte” (K. Marx – 18 Brumário de Luís Bonaparte)


A ação no Pinheirinho, Geraldo Alckmin, rompeu o pacto federativo. É a primeira vez que isso ocorre desde 1988, isso não é um gesto impensado, é um cálculo político.

Alckmin  visou demonstrar uma  fala (e aparato) forte e coeso frente aos movimentos sociais proletários (ou não) e ao governo federal “dúbio” da presidente Dilma Roussef.   Visou mostrar que  São Paulo não é  “qualquer lugar” da federação, “onde ocorre o que quer”: aqui “tem lei, aqui tem ordem”.

 Esse discurso forte atende as demandas imediatas das várias frações das classes médias, das pequenas e baixas burguesias (comercial e especulativa em especial), que precisa de um Estado livre e desregulamentado para seus negócios e acumulação.   Esse discurso abarca setores das altas burguesias (exportadora, importadora, financeira, industrial e agrária associadas), que vê o fluxo de seus negócios ameaçados  com a crise endógena e exógena de curto e longo prazo relacionados ao “mal estruturado” mercado interno.

Esse discurso questiona e responde a busca de novos caminhos e de nova composição orgânica dos interesses do Estado através da construção civil, commodities, bancos nacionais, fundos de pensão, indústria local e associada ao capital chinês, hindu, russo, francês e espanhol. Atende ainda, a psicologia política de uma tradicional classe média que tem seu status quo ameaçado pelo ascenso de novas camadas.

 A ação no Pinheirinho (e cracolândia)  foi  um balão de ensaio, mostrando que ele, Alckmin (em meio a crise do PSDB e a liquidação do PFL-Dem) se coloca na condição de liderar  uma reorganização do pensamento conservador e mesmo uma potencial “guinada” à direita. Cabe lembrar: não é a primeira vez que na instável história institucional brasileira que um político –medíocre- tenta capitalizar uma crise política, econômica ou de identidade nacional.  Essa faz parte de um vasto repertório político dos setores conservadores. Ações como Canudos ou a Marcha com Deus... são parte desse corolário.  Essa teatralização da política, desnudada em seu potencial simbólico no clássico Dezoito Brumários de K Marx, ganha cores vivas e gente morta nas valas do Pinheirinho, Cracolândia e de outros rincões pobres de São Paulo (e Brasil).

Ao fim e ao cabo, a quebra do pacto federativo é uma sinalização séria e não pode ser restrita ou pensada apenas aos marcos “do privilégio” à propriedade privada, como tem sido comum nas análises economicistas, movimentistas, sindicalistas ou técnica burocrática.

Está inserida nas relações que envolvem a crise global e os destinos das classes sociais do país e na composição do Estado.    Ou seja, temos uma sinalização – através de uma potencial guinada à direita e a construção de uma psicologia social para legitimar essas ações das quais os constantes “incêndios” em favelas que podem ter o terrenos valorizados pela Copa, ações pesadas contra o funcionalismo e a esfera pública, ações contra o MST – como a prisão do líder moderado, Zé Rainha- a perseguição aos estudantes e funcionários da USP, a violação dos direitos individuais como na cracolândia, as matanças desencadeadas pelas policias paulistas e etc. São  parte  dessa psicologia política  e um sério movimento  de peça no tabuleiro da política paulista e brasileira.

Se a autonomia de ação do governante de São Paulo ganha ares de espetáculo, outros importantes personagens da política das classes altas mantêm reservas e prudência nos comentários. Estão cautelosos, vem obtendo amplos lucros com as políticas centrais e pouca contestação pelos de baixo (alentados pela tímida distribuição de renda).  Alguns sinalizam para o risco de politizar gestos técnicos, o que traduzindo é o risco e o medo de trazer para a cena um importante (e ausente) personagem: o proletariado. Mas há os que compreendem o gesto de Alckmin como a leitura de que os “dias felizes” das classes dominantes brasileiras estão chegando ao fim com a crise. O que significa: redução de lucros, política de austeridade e corte de gastos sociais, e assim  agitação política e social.  Este novo cenário exigiria um governo a altura das necessidades para evitar colapsos políticos como na Grécia de Papandreu ou na Espanha de Zapateiro. Logo 2014, começa agora! 

Esse novo contexto pauta as esquerdas e a outros setores da sociedade democrática: a necessidade de construção de ações pela defesa da democracia e pela manutenção do estado de direito no primeiro momento, e o avanço das medidas sociais no segundo.

As ações de Alckmin (escudados pelos prefeitos de São José dos Campos, Eduardo Cury e de São Paulo, Gilberto Kassab), receberam uma importante resposta da sociedade, que num período menor que um mês mobilizou manifestos, artigos, reportagens independentes, vídeos, shows, atos litúrgicos, charges, fotos, declarações, audiências, protestos, relatórios dos direitos humanos, inclusive na ONU...

Destacam-se nessas ações, as realizadas na Cracolândia, Moinho, a resistência valente no Pinheirinho e o ato no aniversário de São Paulo com a convergência desses e mais alguns movimentos sociais, possibilitando a construção de uma teia de solidariedade que há anos não se via em São Paulo.

Somou-se nessas ações: estudantes, artistas, senadores, parlamentares, religiosos, humanistas, profissionais liberais, sindicalistas, ONG’s, intelectuais, juristas, movimentos de direitos da população de rua, de saúde mental, de moradia... e as  mais variadas correntes de pensamento democrático social e de esquerda.

Se a reação as políticas proto-fascistas de Alckmin (e de seus pares menores Gilberto Kassab e Eduardo Cury), potencializou uma ampla aliança social, os avanços e os recuos dessa aliança só podem ser determinados pela capacidade de articulação existente entre os movimentos e as organizações políticas ali organizadas.

A construção de uma pauta mínima onde os movimentos da sociedade apresentem limites do “não aceitável” num Estado de Direito Democrático é o primeiro ponto. Este, está centrado nos parâmetros da constituição, nas políticas e nas leis de seguridade social (Suas), na garantia de que haja atendimento digno e com medidas técnicas a altura das necessidades humanas aos historicamente vitimados pela exclusão social. A ruptura desse parâmetro constitucional pelo Governador Geraldo Alckimin, legitima a medida estudada por juristas e apresentadas por movimentos de seu impeachment.

O segundo ponto é sobre as necessárias reformas e planejamento do Estado. Há um consenso entre os movimentos sociais que as reformas agrária, urbana, demográfica, política e educacional são grandes agendas da sociedade e necessidades para superar a herança e o atraso colonial. A questão que se coloca é: quem são os protagonistas dessa ação política?

 Há concepções que visualizam no ritmo eleitoral e na recomposição paulatina do Governo e do Estado o móvel central dessa ação. Há movimentos que observam que os verdadeiros interessados (apoiados pela ação de Governo e do Estado - ou não -) são o centro da política.

Estas questões são as grandes diretrizes a serem debatidas, sem as quais os movimentos continuarão debilitados em sua capacidade de constituir uma plataforma prática.

O fato de termos na atitude do governador Alckimin, um novo elemento na política é  também um alerta a este necessário debate. Permite-nos continuar unidos em torno das bandeiras democráticas e de atos práticos,  garantindo que o movimento plural   firme um limite a movimentos anti-democráticos e ao mesmo tempo, garanta que a singularidade  de cada movimento, desenvolva as medidas  que devam ser firmadas cultural e politicamente na sociedade e no Estado.

*John Kennedy Ferreira, sociólogo e professor, militante da Refundação Comunista – Brasil.
Fonte: PSOL

Tod@s somos Pinheirinho, aqui e agora

Às vezes, os jargões ganham vida. A luta continua.



Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida*

 Os lutadores e lutadoras do Pinheirinho foram desalojados e vivem uma situação muito difícil, extremamente difícil. No entanto, sua luta, que é nossa luta, continua.  Sob certos aspectos, cresce e deve crescer ainda mais.

 Também no Brasil a direita cresce, mas carece, em especial no que se refere a setores da classe média e da burocracia de Estado, de fortes direções políticas, mesmo no plano partidário. O PFL-DEM vive espasmos e os tucanos se atritam o tempo todo, enfraquecendo-se reciprocamente. Já a grande burguesia, se enchendo de lucros, mas em pânico diante de crises no curto prazo, divide-se entre o apoio ao governo e a distância prudente, sempre aberta para quaisquer planos b, c ou z.

A política parafascista de Geraldo Alckmin não é simples sadismo de um tresloucado. Possui certo grau de coerência, desfruta de sólidas bases sociais e expressa uma aposta clara.

Como alguns analistas já observaram, trata-se de apresentar São Paulo como o estado que premia todos os que querem prosperar, dos cidadãos contribuintes, que vencem por seus próprios méritos e possuem o legítimo direito de manter o que conquistaram fora do alcance dos desordeiros e fracassados e, portanto, inimigos do alheio. Caso ganhe, ele se cacifa como o grande paladino da direita brasileira. Neste sentido, incrementa a militarização da cidade de São Paulo, viola direitos de dependentes químicos pobres, suja as mãos com o sangue do Pinheirinho e, se achar que deu certo, continuará na mesma toada. Já anuncia novos e violentos despejos de sem-teto ou, para usar uma linguagem elegante, “reintegrações de posse”.  O pessoal ligado à especulação imobiliária sorri até as orelhas, mas não percebo aplausos entusiásticos de amplos setores da burguesia. É melhor não cutucar o povo com vara curta e, se o governo federal –  na cola do anterior –  sabe como lidar com ele, que dê certo enquanto dure. O neonacionaldesenvolvimentismo não atropela os interesses da grande burguesia (capital imperialista incluso). Por outro lado, caso a situação fuja ao controle, é importante que alguém se apresente para restaurar a ordem.

O governo Dilma não tem qualquer pretensão de mexer na atual correlação intraburguesa de forças, exceto no sentido de se fortalecer gradualmente. A ideia é capturar cada vez mais os segmentos da burguesia que apoiam o tucanato e promover políticas sociais compensatórias. No plano eleitoral, o objetivo tático mais importante é vencer as eleições para a prefeitura de São Paulo, até para, na sequência, ganhar o governo da “locomotiva”. Isto implica, como diziam os antigos, comer pela beirada do prato e apostar no erro do adversário, até porque este se desespera. Aqui se trata mais de expressar sensibilidade social e jamais de estimular a “desordem”. Pode-se até amparar os lutadores e lutadoras do Pinheirinho, desde que... parem de lutar. Dilma declarou no Fórum Social Mundial que o tratamento dado a eles foi “bárbaro”, mas não se solidarizou com a luta deles nem, no calor da chacina, protestou contra o tiro que o representante do governo federal recebeu da PM paulista. Afinal, argumenta Eduardo Cardozo, existe um pacto federativo e “não podemos” nos intrometer nos assuntos paulistas. E hoje, Lula não somente recebeu a visita de Alckmin, nos Hospital Sírio-Libanês, como trocou sorridente abraço com o tucano que mandou atirar contra o povo organizado. Os dois personagens não são aliados partidários nem adeptos das mesmas políticas sociais. Mas a prática é o critério da verdade. Exigimos que o governo federal desaproprie a área e a devolva, em condições adequadas, a seus moradores e moradoras.  Enquanto isso, que lhes assegure, com ou sem participação do governo estadual, condições de moradia digna.

Neste complexo tabuleiro onde a pequena e a grande política se misturam o tempo todo, talvez já seja possível sinalizar alguns elementos de análise.

O primeiro deles é que o Pinheirinho produziu a mais radical e politizada manifestação coletiva de sem-teto, ao menos neste início de século. Depois dos mitos do fim da questão agrária no Brasil; da impossibilidade de articulação de lutas de empregados e desempregados; da inércia final e fatal de amplas categorias de trabalhador@s (como na construção civil, setor bancário, metalúrgicos etc.); cai o lero-lero de que os impactos da presença estatal, da indústria cultural e do narcotráfico tornavam impossível a ação política dos sem-teto nos grandes centros urbanos.

O segundo é que, por mais que a chamada grande imprensa tente ocultar, o assunto é político. Na conjuntura, a linha divisória principal passa entre quem é a favor da vitória ou da derrota do Pinheirinho. É claro que existe um amplo meio de campo dos sem informação, sem posição formada, onde se encontram milhões a serem sensibilizados pelos que ousaram se levantar sem pedir favor aos dominantes. Mas uma coisa é certa: com toda a heterogeneidade deste campo, se alguém é a favor do Pinheirinho e contra a política do governo Alckmin, dá pra conversar. Se for a favor do açougueiro do Morumbi, não tem acordo. Do contrário, com ou sem a presença de Alckmin, esta política parafascista se expandirá rapidamente pelo país.

Enfim, o que pode ser uma boa notícia. Apesar da vitória militar do demotucanato e da cobertura que este, como de praxe, obteve da grande imprensa, a luta do Pinheirinho obtém vitórias onde as classes populares brasileiras perdem todas nos últimos anos: na luta ideológica. A manifestação dos cineastas na cerimônia do Prêmio Governador do Estado para a Cultura em São Paulo (presença do carniceiro do Morumbi) foi fantástica; o ato político unitário do 25 de janeiro teve ótima repercussão; juristas críticos começam a se manifestar inclusive no âmbito internacional; ao menos um respeitável jornal estrangeiro critica o governo paulista e – melhor ainda – os grandes meios de comunicação  brasucas; e vários destes, inclusive na internet, já se reposicionam e fazem uma cobertura mais cautelosa do embate.

Se não atuarmos com toda a persistência e urgência possíveis nesta conjuntura, deixaremos passar uma oportunidade histórica para o avanço da luta política dos dominados neste país.

A urgência se deve ao aspecto contrário: a extrema fragilidade atual dos lutadores e lutadoras do Pinheirinho. Em uma escola e dois dos três centros poliesportivos, continuam cercados e controlados pela polícia. E todos os alojamentos são precários: fervem sob o sol e gelam durante toda a noite; falta água, comida, roupa (fraldas inclusas), material de limpeza  e – o que também é importantíssimo – lazer, especialmente a criançada. É preciso denunciar tudo isso o tempo todo. É preciso encontrar meios políticos de retirar a polícia destes locais. É preciso organizar redes de solidariedade que levem os recursos materiais e culturais necessários. Aqui, de fato, somos tod@s Pinheirinho.

Longe de filantrópicas, estas ações de solidariedade e antibarbárie podem ser políticas e politizadoras, inclusive de nós mesm@s.

Parafraseando Gramsci, abriu-se um momento em que a vontade pode ter razão em seu otimismo.

Ousar vivê-lo é o nosso desafio.

*Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida é professor do Departamento de Política da PUC-SP.

O Brasil reinventa o totalitarismo – a nova máquina policial

Bodocongo.com

Ontem, os "inimigos internos" eram "os indígenas, depois os escravos, quilombolas, negros livres e mestiços"; hoje, para o governo do PT e sua base aliada - responsáveis pela modernização do aparelho repressivo -, os " inimigos são os que se abrigam em favelas, ocupações e invasões".

Bajonas Teixeira de Brito Junior*
Há muitos sintomas que hoje indicam a eclosão de uma forma peculiar de totalitarismo no Brasil. Thomas Mann, exilado durante a maior parte do tempo que durou o Terceiro Reich, definiu a Alemanha do período como o “bem que infeccionou”.  O bem, porque o alemão era tradicionalmente conhecido por seu senso de ordem, disciplina, dedicação ao trabalho e obediência às leis. O agigantamento de alguns poucos sentimentos alemães (o anti-semitismo, o nacionalismo, a necessidade de obediência e hierarquia, o revanchismo, o misticismo) levaram à catástrofe. No Brasil de hoje, ainda temos que descobrir o que está por trás dos traços totalitários que se avolumam.
Observamos esses traços se ramificarem em diversas direções: nas alterações (sempre para cima) dos contratos bilionários das empreiteiras; nas concessões inconstitucionais para as obras da Copa e outros megaeventos esportivos — que, como tem enfatizado o professor Carlos Vainer, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da UFRJ, assumem a forma de um efetivo Estado de Exceção, com as garantias constitucionais anuladas em benefício da especulação imobiliária e outros grandes interesses econômicos; o mesmo aparece nos projetos colossais, como o do Plano Nacional de Banda Larga, em que salta aos olhos o modo com que, como faca quente sobre a manteiga, os “parceiros” do governo federal infringem ou denunciam os acordos no mesmo dia em que os firmam e obtém os privilégios que Estado algum concederia.
Por fim, o que provoca estremecimento e pavor, temos as operações policiais destinadas aos pobres e aos movimentos sociais, cada vez mais aparatosas em que se pode admirar a pujança do aparelhamento da repressão: helicópteros blindados em sobrevôo rasante, enormes carros blindados, viaturas novinhas em folha, armaduras articuladas com proteção amortecedora e design futurista, semelhantes às dos soldados americanos no Iraque, veículos especiais para transporte rápido de grande quantidade de cavalos, utilização da cavalaria como técnica de cerco e perseguição, etc.
Uma atenção especial merece esse último aspecto, a força repressiva, em vista da escalada da violência policial que se cristalizou em diversos acontecimentos repulsivos nos últimos tempos. Para entender suas causas é preciso, primeiro, mostrar os fatos que se acumulam e, em seguida, buscar as raízes do presente surto de totalitarismo no país. Citamos alguns dos fatos marcantes:
1. 02 junho de 2011. Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Durante uma manifestação contra as altas tarifas dos ônibus e melhoria do transporte público, a tropa de choque local atua com grande violência contra estudantes universitários e secundaristas. O vídeo no You Tube pode ser visto aqui. E reproduzo parcialmente o pequeno, mas preciso, relato que acompanha o vídeo:
“Durante manifestação pacífica, o BME-ES (Batalhão de Missões Especiais do Espírito Santo [...] ) age com bombas, tiros de balas de borracha (muitos à queima-roupa), spray de pimenta e tapas/pontapés contra manifestantes desarmados (em sua maioria estudantes).
Detalhe 1: a tropa atira nos manifestantes antes de qualquer iniciativa de confronto por parte deles, apontando para dentro da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), ferindo gente desde o pescoço (!) até o pé, inclusive acertando pessoas que não estavam na manifestação.
Detalhe 2: A tropa age sob ordem do governador Renato Casagrande, que havia baixado nota dizendo que abria mesa para diálogo com os manifestantes, mas não atenderia a nenhuma das reivindicações (no entender da autoridade facista, isso é abertura para diálogo).”
2. 21 de Outubro de 2011. Durante a greve de professores e estudantes da Universidade Federal de Rondônia (Unir) — contra a administração corrupta do reitor Januário Amaral, que se viu ao fim obrigado a renunciar e é hoje acusado pelo promotor do Ministério Público Estadual de Rondônia (MPRO) Pedro Abi-Eçad de ter liderado uma organização criminosa dentro da universidade — a Polícia Federal (PF) efetuou a prisão, não do reitor, mas de um professor presente nos protestos, o professor e doutor em história Valdir Aparecido de Souza. É interessante observar a perfeita calma e autocontrole do professor, característica da coragem sem arrogância, em contraste com a histeria dos policiais federais, que chegam a mostrar uma arma no momento da prisão arbitrária do docente. Parecem duas vertentes da humanidade, entre as quais não há ponte possível. O vídeo não deixa dúvidas.
3. 08 de novembro de 2011. A desocupação da USP. Um policial aponta a arma para o rosto de uma aluna. Cavalaria, tropa de choque, alarido de sirenes, explosões, bombas de gás lacrimogêneo, helicópteros voando próximos ao prédio. A moradia estudantil (CRUSP) fica sitiada por grande contingente policial. Enfim, cenas de horror e desespero. O saldo de 73 estudantes presos.
4. 09 de janeiro de 2012. Um estudante negro na USP foi tratado com extrema violência por um policial militar, levou tapas, foi arremessado contra os móveis que estavam no caminho, humilhado de forma assombrosa por um agente público em serviço. Isso foi feito, sem o menor escrúpulo e sem qualquer hesitação, diante de câmeras. Fica-se a imaginar o que acontece longe das câmeras.
5. 03 de janeiro de 2012. Longe das câmeras, acorrem as abordagens sempre cruéis e marcadas pela brutalidade. Um doutorando em Filosofia, em Barão Geraldo, Campinas, se atreveu a questionar a forma de tratamento dada por policiais aos jovens pobres e negros da localidade. Recebeu uma série de ameaças e teve que enfrentar vários constrangimentos, inclusive desfile de viaturas na sua porta. Não se intimidou e, num segundo questionamento das abordagens policiais, foi preso por “desacato”. Ele fez então, por temer represálias ainda mais graves, o relato dos fatos que foi publicado no site do Yahoo, na coluna de Walter Hupsel.
6. 05 de janeiro de 2012. Com os métodos truculentos que se tornaram a rotina da atividade policial nas ruas, se procede à “limpeza” da região da Cracolândia em São Paulo. O pretexto é o revigoramento do Centro. O motivo real, apontado por todos os movimentos sociais, é a simbiose de interesses políticos e especulação imobiliária. Na desocupação de Cracolândia, não só se desconsiderou qualquer ação para amenizar a síndrome de abstinência dos dependentes químicos, mas se explicitou o que está no íntimo do tratamento brutal oferecido pela polícia, e a política, aos miseráveis da sociedade brasileira: a Prefeitura de São Paulo declarou que sua estratégia se baseava em “dor e sofrimento” para atingir os seus objetivos. Veja-se a matéria doEstadão: SP usa ‘dor e sofrimento’ para acabar com cracolândia.
7. 22 de janeiro de 2012. Desocupação de Pinheirinho em São José dos Campos (SP). Reproduzo o texto de Raquel Rolnik que, junto com Walter Hupsel, tem sido uma das poucas vozes indignadas com a escalada policial:  “Milhares de homens, mulheres, crianças e idosos moradores da ocupação Pinheirinho são surpreendidos por um cerco formado por helicópteros, carros blindados e mais de 1.800 homens armados da Polícia Militar. Além de terem sido interditadas as saídas da ocupação, foram cortados água, luz e telefone, e a ordem era que famílias se recolhessem para dar início ao processo de retirada. Determinados a resistir — já que a reintegração de posse havia sido suspensa na sexta feira  – os moradores não aceitaram o comando, dando início a uma situação  dramaticamente violenta que se prolongou durante todo o dia e que teve como resultado famílias desabrigadas, pessoas feridas, detenções e rumores, inclusive, sobre a existência de mortos.”
**Doutor em Filosofia, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas. Foi duas vezes premiado pelo Ministério da Cultura por seus ensaios sobre o pensamento social e cultura no Brasil. É coordenador da revista eletrônica, Revista Humanas , órgão de divulgação científica da Cátedra Unesco de Multilinguismo Digital (Unicamp) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Ufes.
Para ler por completo o artigo, clicar Congresso em Foco

sábado, 28 de janeiro de 2012

Um dos efeitos da concentração de renda: genocídio seletivo

A letalidade envolvendo policiais militares da Rota, tida como a tropa de elite da PM paulista, em 2011 foi a maior dos últimos cinco anos. A pergunta que não quer calar: qual o perfil da maioria dos que foram assassinados?

A informação é de reportagem de André Caramante, Afonso Benites e Evandro Spinelli, publicada na edição deste sábado da Folha. A íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL (empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha).

Entre mortos em casos de "resistência seguida de morte" (82) e homicídios dolosos (9), integrantes da Rota foram responsáveis por 91 mortes em 2011 --14,28% de todas as mortes (637) envolvendo PMs no Estado de São Paulo.

Em sete anos, as mortes em 2011 só não superaram as de 2006, quando as forças de segurança enfrentaram três ondas de ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital. PMs da Rota se envolveram em 93 "resistências seguidas de mortes" e 4 homicídios na ocasião.

OUTRO LADO

Para o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que assumiu o comando da Rota em 22 de novembro de 2011, a análise sobre os casos em que seus subordinados se envolvem em mortes precisam ser analisados em contexto com outros números.

"Apreendemos neste mês mais drogas [85 kg], armas [27], veículos irregulares [28] e fizemos mais flagrantes [91]. Mas as resistências seguidas de morte estão empatadas, foram cinco", disse.
Fonte: FOLHA

Tv Flaskô: MASSACRE PINHEIRINHO - o que a Mídia Burguesa não mostra

Poema de Chão

Tu tens folha?
         Dei-me,
         Quero escrever um poema
         Um poema azul
         Um poema de carne
         Um poema de rio
         Um poema de árvore
         Um poema de passarinho
         Um poema de poeta
Desses que canta nas ruas
     Um canto de olhar
          Chamando, chamando
                Pois o amor está pronto
                      Ao chamamento da folha nua.

Tu tens folha?
          Não?
               Dei-me tua terra
                          Quero escrever um poema de chão.

JeanClaudio
  27/01/2012

Massacre de Pinheirinhos visto por imprensa alternativa

Massacre de Pinheirinhos: Balas contra a população. O Estado a serviço das empreiteiras.
MM
Quem me conhece sabe que é difícil para mim não ter palavras para começar u texto. Não saber por onde começar. A invasão criminosa e absurda - e ilegal segundo a OAB e diversos juristas -, chamada de "desapropriação", uma tucanagem clara do termo "massacre" me deixou sem palavras. A barbárie que presenciei e quase fui vítima me deixou sem palavras.

População entrando no campo de concentração para serem cadastradas
Admito que enquanto escrevia este post e enquanto via os vídeos que foram gravados chorei. Chorei sozinho, olhando para o computador e pensando que eu tinha uma casa, oras, eu tinha um computador para escrever estas linhas! E aquelas pessoas, tratadas pior do que cachorros, tratadas como lixo não tinham onde morar, não sabiam o que seria delas no dia seguinte.

Chorei ao pensar que podia ter morrido, com a bala de borracha que um PM atirou na minha direção e que me raspou a cabeça. chorei pela dor dos que ficaram lá no Pinheirinho, para resistir, para lamentar e para chorar a destruição de suas vidas por um governo fascista estadual e municipal do PSDB de Alckmin e Cury, com silêncio e conivência do federal, do PT.
Para acessar à matéria por inteiro, clicar TSAVKKO

Vale é eleita a pior empresa do mundo 27 de janeiro de 2012

Após 21 dias de acirrada disputa, a mineradora brasileira Vale foi eleita, nesta quinta, 26, a pior corporação do mundo no Public Eye Awards, conhecido como o “Nobel” da vergonha corporativa mundial. Criado em 2000, o Public Eye é concedido anualmente à empresa vencedora, escolhida por voto popular em função de problemas ambientais, sociais e trabalhistas, durante o Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos.

Este ano, a Vale concorreu com as empresas Barclays, Freeport, Samsung, Syngenta e  Tepco. Nos últimos dias da votação, a Vale e a japonesa Tepco, responsável pelo desastre nuclear de Fukushima, se revesaram no primeiro lugar da disputa, vencida com 25.041 votos pela mineradora brasileira.

De acordo com as entidades que indicaram a Vale para o Public Eye Award 2012 – a Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale (International Network of People Affected by Vale), representada pela organização brasileira Rede Justiça nos Trilhos, e as ONGs Amazon Watch e International Rivers, parceiras do Movimento Xingu Vivo para Sempre, que luta contra a usina de Belo Monte -, o fato de a Vale ser uma multinacional presente em 38 países e com impactos espalhados pelo mundo, ampliou o número de votantes.
Já para os organizadores do prêmio, Greenpeace Suíça e Declaração de Berna, a entrada da empresa, em meados de 2010, no Consórcio Norte Energia SA, empreendimento responsável pela construção de Belo Monte, foi um fator determinante para a sua inclusão na lista das seis finalistas do Public Eye deste ano.

A vitória da Vale foi comemorada no Brasil por dezenas de organizações que atuam em regiões afetadas pela Vale. “Para as milhares de pessoas, no Brasil e no mundo, que sofrem com os desmandos desta multinacional, que foram desalojadas, perderam casas e terras, que tiveram amigos e parentes mortos nos trilhos da ferrovia Carajás, que sofreram perseguição política, que foram ameaçadas por capangas e pistoleiros, que ficaram doentes, tiveram filhos e filhas explorados/as, foram demitidas, sofrem com péssimas condições de trabalho e remuneração, e tantos outros impactos, conceder à Vale o titulo de pior corporação do mundo é muito mais que vencer um premio. É a chance de expor aos olhos do planeta seus sofrimentos, e trazer centenas de novos atores e forças para a luta pelos seus direitos e contra os desmandos cometidos pela empresa”, afirmaram as entidades que encabeçaram a campanha contra a mineradora. Em um hotsite criado para divulgar a candidatura da Vale, forma listados alguns dos principais problemas de empreendimentos da empresa no Brasil e no exterior.

Coletiva
No Brasil, as entidade Rede Justiça nos Trilhos, Núcleo Amigos da Terra Brasil, International Rivers e MST farão uma coletiva de imprensa sobre o premio nesta sexta, 27, ás 12:00 h, na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre.

Já em Davos, Suíça, também ao meio dia (horário local), os organizadores do Public Eye, Declaração de Berna e Greenpeace Suíça, farão a entrega do premio durante uma coletiva no Fórum Econômico Mundial, que contará com a presença do economista americano e vencedor do Premio Nobel, Joseph Stiglitz.
Fonte: MST