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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Janeiro: Almoço das Horas hibernará

Caros internautas,
Janeiro inteiro estarei desocupado, usufruindo de minhas férias e desconectado de tudo, inclusive do Blog.
Desejo a todos e todas boas festas de fim de ano e férias (para os que estarão gozando).
O Blog não sairá do ar, mas não sofrerá atualizações, senão no final de janeiro/2012. Aproveitem para explorar o que perderam das postagens antigas do Blog (no rodapé).
Hasta breve!!!
Rubens

Curto e Grosso: Angeli para além da sabedoria popular

Marolinha...

Bovespa deve ter 3º pior resultado da era pós Plano Real


                                                                                        
Em quinta-feira 29/12/2011, às 12:01

O principal índice acionário da Bolsa brasileira pode encerrar 2011 com o terceiro pior desempenho desde o início do Plano Real, segundo informações divulgadas hoje pela consultoria Economática. Considerando-se a performance do Ibovespa no acumulado do ano até ontem, de -18,43%, o desempenho negativo só fica atrás do verificado em 2008 (-41,22%) - ano de crise econômico-financeira global - e de 1998, quando o mercado acionário brasileiro ainda engatinhava e teve desvalorização de 33,46%.
Em contrapartida, o melhor ano da Bovespa foi em 1999, quando houve um aumento significativo de 151,93% no Ibovespa, no mesmo período em que o governo brasileiro mudou a condução da política cambial, adotando o regime de câmbio flutuante.
Ainda de acordo com a Economática, levando-se em conta as seis principais aplicações financeiras, o Ibovespa é a única opção a apresentar variação negativa em 2011. O título de melhor aplicação do ano, por sua vez, deve ficar com o ouro, com valorização de 16,46% até o dia 28 de dezembro, seguida pelo Dólar Ptax Venda, com alta de 11,84%. A aplicação com performance positiva mais fraca fica com a poupança, que deve garantir uma rentabilidade de 7,50% ao aplicador.

Triste União Nacional dos Estudantes

Emanuel Medeiros Vieira

Participei do CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes), logo após o golpe militar.
Sinceramente, nosso projeto era algo idealista, "desaparelhado", sem busca de pecúnia e, muito pelo contrário, nunca encostado nas tetas do Executivo.
Éramos perseguidos! Mesmo nos governos de Juscelino e Jango, antes do golpe, com altivez ela questionava os seus projetos.

Hoje?

Degradada UNE! Aparelhada, subalterna, subserviente, covarde, nas mãos dos PCdoB, recebe polpudas verbas do governo e fecha os olhos para as suas tramóias.
Os professores do Rio de Janeiro estão em greve –, terra do governador Sérgio Cabral, amigo dos empreiteiros –, e a UNE não dá um pio.
Pobre UNE (pobre de ideais – entendam bem). Subserviente UNE!
Ela não se manifesta sobre o mensalão , aloprados, escândalos, balcão de negócios na Casa Civil, corrupção no ministério de Transportes e em outros órgãos. Nada.
E uma poeta que também trabalha com atriz, afirmou que, com o PT, seus "amigos estavam no poder". Só se forem os amigos dela.

E a UNE? Bico calado para continuar recebendo pelo seu indecoroso silêncio. 
A UNE que lutou contra o nazi-fascismo, de tantas lutas heróicas, agora só quer privilégios, mamatas, "bocas".
No seu último congresso, terminado no final de semana em Goiânia, a aviltada entidade chamou o Lula (tão complacente com a corrupção) para falar, para dizer suas platitudes – o mesmo homem que disseque "ler dá azia", e hoje só gosta de viajar de jatinhos.
Não gostou que chamassem a UNE de chapa-branca.
É que Lula e sua camarilha detestam a verdade. E ele ainda foi aplaudido.E quem financiou o "convescote"? Petrobrás, Eletrobrás, Caixa Econômica Federal, ministérios do Turismo, Saúde, Esportes.
Sem esquecer o apoio da Prefeitura de Goiânia, do Governo de Goiás e da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).
Dinheiro de quem? Teu – caro leitor -, meu, nosso.
Comíamos pratos-feitos, viajávamos de ônibus de Porto Alegre para Salvador, sem dinheiro no bolso, parando em pensões pulguentas.
Queixas? Nenhuma. Havia um sonho. Sim, havia. Não é o elogio do sofrimento. Tomávamos nossas caipirinhas, também festejávamos e, como diria Manuel Bandeira, havia morenas bonitas para a gente namorar.
Mas não nos vendíamos.
O verbo é esse: VENDER. A alma, não!
Queixa? Nenhuma. Havia um sonho.
Agora? Hotéis cinco estrelas, boates luxuosas: é isso o que quer essa estudantada aparelhada (ou "pelegada"?)!
UNE chapa-branca: teus fantasmas te assombrarão! Foi vendida na bacia das almas, uma entidade que, um dia, mereceu o respeito do povo brasileiro.
Ela tem dinheiro! Mas também merecerá sempre o nosso desprezo e a nossa repulsa.
A outra UNE, não. Está no nosso coração. Mas, hoje, é apenas um retrato na parede.

Os "piratas somalis" não são somalis: o mito do desenvolvimento sustentável sob o capitalismo

Imperdível, corajoso documentário desvenda o mito do "desenvolvimento sustentável" sob o capitalismo. Mais que isso, denuncia a conivência histórica da ONU (Organização das Nações Unidas) com a verdadeira pirataria institucionalizada na África, que tem levado a morte milhares de africanos pela miséria, guerra civil e... pelo lixo atômico despejado nas águas de suas costas marítimas.
Mais que qualquer outro este documentário desvenda/denuncia o papel da ONU na geopolítica mundial como fantoche dos interesses das grandes corporações transnacionais.
Seria essa a contrapartida das nações industrializadas pela sua "ajuda humanitária" aos povos africanos?
Indicação de site: http://www.juanfalque.com/

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

MUDANÇA NA MILITÂNCIA: Movimentos de massa no mundo, a internet e o perfil da nova militância.


A retomada das lutas proletárias e de cunho social mais amplo nestas primeiras décadas do século XXI, por conta antes e acima de tudo, do aprofundamento da crise sistêmica e estrutural do capital, já na sua fase de exaustão e das suas correlatas implicações de ordem política, que se manifestam muitas vezes na superfície dos fenômenos sociais, mas que, acabam por mergulhar nas profundezas das caudalosas águas do leito da ebulição das manifestações insurrecionais e revolucionárias, trazem novas implicações para o desenvolvimento da luta de classes. Muito embora estes movimentos não tenham desaguado para um ambiente por demais característico e próximo de um projeto socialista, que se opõe em formas de organização, respaldada em uma ampla rede de círculos, comissões e conselhos de trabalhadores ou de um Pré-Estado, típico de existência em situações revolucionárias abertas ou situações pré-revolucionárias, a hora é de retomada da luta de classes em outro patamar.
Diante disso, convém analisar o padrão característico básico da militância dos movimentos sociais e da nossa militância em particular. A novidade que se apresenta no padrão da militância é o uso e a intimidade desta principalmente nos setores da juventude e mais próximos dela, com a máquina de computador e a informática de maneira geral, bem como, do uso em abundância do recurso da internet. Talvez seja exagero afirmar que grande parte das mobilizações de massa que estão surgindo no mundo tenham sido articuladas pela internet, mas, sem sombra de dúvida, ela tem facilitado este processo.
O fato é que o uso cada vez mais amplo de forma horizontal da informática possibilita maior intercâmbio, articulação e propaganda. Ainda assim, a internet não se caracteriza enquanto um recurso seguro e tem-se mostrado bastante vulnerável ao uso da espionagem e do controle. Muito embora, há quem afirme ser a internet um instrumento incontrolável do ponto de vista da sua totalidade.
Podemos dizer, sem medo de errar, que o uso do recurso, que é considerado uma das principais transformações ocorridas no mundo da produção e do trabalho, a revolução digital do microchip, não só veio a criar um novo militante político, como também, tem patrocinado inúmeras possibilidades para esse militante. No entanto, isso não é garantia de antemão, para uma atuação eficiente e suficiente para a ação de massa, em uma perspectiva de transformação social. Neste sentido, não se pode dizer que um militante internauta desenvolva em tempo hábil todas suas possibilidades, com o simples manejo e adestramento da máquina. É preciso, portanto, muito mais que um ato técnico e operacional para se forjar um verdadeiro militante.
Às vezes, temos a sensação de que as explosões de massa que hora ocorrem derivam de estruturas organizacionais sofisticadas, porém, sem um núcleo polarizador dirigente. Mas, esta é uma sensação superficial e falsa. Também se poderia dizer que estes movimentos são fruto da espontaneidade das massas puro e simplesmente. Na verdade, o conjunto do movimento de massa conta, na presente fase do desenvolvimento da luta de classes, antes e acima de tudo de um fator consciente, que nem de longe margeia o espontâneo. Mas que brota do processo ontológico e gnosiológico, em ebulição, pelo qual fervilha a produção do conhecimento humano, em especial, da classe operária, do seu processo histórico e da sua memória social.
Assim, na garimpagem de novos militantes para a causa socialista, é preciso sempre levar em conta que existem pedras preciosas em estado bruto que jamais foram encontradas. Como diamantes incrustados nas profundezas da terra, para além do subsolo e próximo ao núcleo, onde o desenvolvimento técnico não se desenvolveu o suficiente para a sua extração. É destas pedras raras, ou melhor, militantes, que devemos andar atrás. E isso, nem sempre, será encontrado em tela de computador, mas sim, nos ambientes vivos de arrojos e confrontos de classes. Às vezes, quem sabe, por um destes “toscos” que não dominam todas as possibilidades da máquina.
Fonte: Boletim Germinal OPOP

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Eric Hobsbawm sobre 2011: “Fez-me lembrar 1848...”

23/12/2011
Entrevista a Andrew Whitehead
BBC World Service News, Londres


Eric Hobsbawm assistiu às revoltas de 2011 com entusiasmo – e diz que, hoje,quem move as ondas populares é a classe média, não os trabalhadores. “Foi imensa alegria ver, mais uma vez, que o povo pode ir às ruas, manifestar-se e derrubar governos” – diz EJ Hobsbawm, no apagar das luzes de um ano de levantes populares no mundo árabe.

Hobsbawm viveu toda sua longa vida à sombra – ou à luz – de revoluções. Nascido alguns meses antes da Revolução Russa de 1917, foi comunista durante praticamente toda sua vida adulta – além de pensador e escritor inovador e influente. Foi historiador de revoluções e várias vezes militou a favor de mudanças revolucionárias.

Já chegado aos 95 anos, a paixão política sempre viva reflete-se no título de seu livro mais recente Como mudar o mundo[1] [São Paulo: Companhia das Letras, 2011] – e no ativo interesse pelos levantes populares no mundo árabe.

“Não há dúvidas de que me sinto entusiasmado e aliviado” – diz ele, em conversa em sua casa no norte de Londres, bem próxima de Hampstead Heath, casa de paredes cheias de livros de História em várias línguas, e sobre jazz.

“Se alguma revolução ainda é possível, terá de ser mais ou menos como o que estamos vendo. Pelo menos nos primeiros tempos. Gente saindo às ruas para manifestar-se a favor das coisas certas.” Mas logo acrescenta: “Sabemos que nãovai durar.”

O historiador que há nele logo vê um paralelo entre a ‘Primavera Árabe’ de 2011e o “ano das revoluções” na Europa há quase dois séculos, quando um levante na França foi logo seguido por outros nos estados italianos e germânicos, no Império dos Habsburgos e em outros pontos.

Democracias árabes?

“Fez-me lembrar 1848” – diz ele –, “outra revolução surgida num país que depois, em pouco tempo, se espalhou por todo o continente.”
Para os que encheram a Praça Tahrir e hoje se preocupam com o futuro de suarevolução, Hobsbawm tem uma palavra de conforto.
“Dois anos depois de 1848, tudo parecia mostrar que a revolução fracassara. Nolongo prazo, viu-se que não fracassou. Houve muitos avanços progressistas. Aquelarevolução fracassou, se analisada no calor da hora; mas, foi vitoriosa, pelo menos parcialmente, vista de mais longe. Embora, depois, já não sob forma de revolução.”
Seja como for, exceto talvez no caso da Tunísia, Hobsbawm vê pouca probabilidade de haver democracias liberais representativas, de estilo europeu, no mundo árabe. Tem-se dado pouca atenção, diz ele, às diferenças entre os países árabes nos quais tem havido manifestações de massa: “Estamos no meio de uma revolução– mas não é a mesma revoluções em todos os lugares”.
“Todas são parecidas, porque há em todas um mesmo descontentamento, e as forças mobilizáveis são semelhantes – uma classe média em modernização, sobretudo os estudantes jovens dessa classe média e, evidentemente, a tecnologia que torna hoje muito mais fácil mobilizar os que se queiram manifestar.”
Para Hobsbawm, as mídias sociais começaram a ter alguma significação para os movimentos globais, na campanha de eleição do presidente Obama nos EUA, que conseguiu mobilizar amplas fatias da população, até então politicamente inativas, através da Internet.
Para ele, “as atuais ocupações, na maioria dos casos, não são protestos de massa, os 99% não estão nas ruas, mas lá está o sempre mobilizável famoso “exército de palco”[2] de estudantes e militantes da contracultura. Algumas vezes, encontram eco na opinião pública, como se vê claramente nas ocupações anti-Wall Street e anticapitalistas.”
Mas, em todo o mundo, a esquerda da qual Hobsbawm fez parte – como militante, cronista e, pelo menos como intenção, modernizador – está hoje à margem dos protestos de massa e das ocupações.
“A esquerda tradicional foi gerada num tipo de sociedade que já não existe, ou está saindo de cena. Aquela esquerda acreditava no movimento trabalhista de massa como agente que criaria o futuro. Hoje, o trabalho mudou – e fomos desindustrializados – e aquele projeto daquela esquerda deixou de ser viável.”
“Hoje, as mobilizações de massa mais efetivas brotam, sobretudo de uma classe média modernizada de um corpo de estudantes imensamente inchado. São mais efetivas nos países nos quais, demograficamente, a população jovem, homens e mulheres, são fatia maior da população, do que o que se vê na Europa.”
Eric Hobsbawm não espera que as revoluções árabes tenham alcance maior no resto do mundo, não, pelo menos, como semente de revolução mais ampla. O mais provável, diz ele, é que os reformadores árabes sejam postos de lado por grupos islâmicos, como já aconteceu no Irã.
Segundo ele, deve-se esperar, isso sim, um movimento gradual de reformas, como já seviu nos anos 1980s, quando, por exemplo, na Coreia do Sul, os movimentos jovens e de classe média, obtiveram algumas conquistas contra o poder dos militares [mas, no resto do mundo, a única reforma que se viu foram os muitos movimentos jovens e de classe média, serem cooptados pelo neoliberalismo mais selvagem,como se viu na Argentina e no Brasil, por exemplo (NTs)].

Uma revolução em idioma político do Islã: o Irã, 1979

Quanto aos dramas políticos que ainda se desenrolam nos países de língua árabe, Hobsbawm chama a atenção para o caso do Irã, em 1979, onde, embora se fale língua persa, aconteceu a primeira revolução concebida no idioma político do Islã. Para ele, um aspecto daquela revolução, pelo menos, encontrou eco nas revoluções do mundo muçulmano nos últimos meses:
“As pessoas que fizeram concessões ao Islã, mas não eram, elas próprias religiosas islâmicas, foram marginalizadas – por exemplo, os reformistas liberais e os reformistas comunistas. O que está emergindo como ideologia das massas árabes, não é a ideologia dos que iniciaram as manifestações.”
Embora os levantes árabes o tenham enchido de alegria (até de “alívio”), Hobsbawm vê esse aspecto como “desenvolvimento não previsto e não necessariamente bem-vindo”.


[1] O livro foi resenhado por TerryEagleton na London Review of Books (23/2/2011,“Indomáveis”, Terry Eagleton, LondonReview of Books, http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/02/indomaveis.html)[NTs].
[2] Orig. stage army. A expressão aparece na didascália da peças de Shakespeare, para designar grupos de coadjuvantes que cruzam o palco, desaparecem nas coxias e adiante reaparecem, como a narrativa exija, e tornam a desaparecer nas coxias [NTs].
Fonte (em inglês): BBC News
Agradecimentos do Blog a Reginaldo Bispo (Coordenador Nacional de Organização do MNU-Movimento Negro Unificado GT-MNU de Lutas)

Investigações em cinco ministérios apontam desvios de R$ 1,1 bilhão

Charge: noticiainterativavirtual.com.br
 26/12/2011 09:32


Além de derrubar cinco ministros este ano, as investigações de desvio de recursos públicos em órgãos federais identificaram ao menos 88 servidores públicos, de carreira ou não, suspeitos de envolvimento em ações escusas que acumulam dano potencial de R$ 1,1 bilhão. Esse valor inclui recursos pagos e também dinheiro cuja liberação chegou a ser barrada antes do pagamento. A recuperação do que saiu irregularmente dos cofres públicos ainda dependerá de um longo e penoso processo, até que parte desse dinheiro retorne ao Erário.
Os desvios foram constatados em investigações da Controladoria Geral da União (CGU) e dos cinco ministérios cujos titulares foram exonerados — Transportes, Agricultura, Turismo, Esporte e Trabalho. Outros dois ministros — da Casa Civil e da Defesa — caíram este ano, mas não por irregularidades neste governo. Antonio Palocci (Casa Civil) saiu por suspeitas de tráfico de influência antes de virar ministro, e Nelson Jobim (Defesa), após fazer críticas ao governo.
A contabilidade exclui investigações ainda não encerradas pela Polícia Federal, que apura se houve ou não pagamento de propina a servidores, apontados como facilitadores dos esquemas de corrupção em Brasília e nos braços estaduais dos órgãos federais. Somente nas últimas semanas, a Polícia Federal desmontou três esquemas de corrupção intimamente ligados às denúncias. Informações do Blog do Noblat.

Fonte: Política Hoje

FARC-EP divulga vídeo de enterro e homenagem a Alfonso Cano

No dia 25 de novembro deste ano, militantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército Popular se reuniram no Cemitério Paraíso, em Bogotá, para despedir-se do Comandante  Alfonso Cano. Na ocasião renderam homenagem à sua memória. O vídeo ora divulgado contém a gravação da homenagem. Assista:


A esquerda que não desejamos mais

O jogo está perdido? Poderiam os eleitores e militantes de esquerda mais interessados no conteúdo do que nos rótulos ter esperanças, inclusive nos países ocidentais, de combater a direita junto com camaradas conquistados pelo liberalismo, mas ainda eleitoralmente hegemônicos? 



Os norte-americanos que se manifestam contra Wall Street protestam também contra seus contatos dentro do Partido Democrata e da Casa Branca. Certamente eles não sabem que os socialistas franceses continuam invocando Barack Obama como exemplo. Segundo estes, o presidente norte-americano teria sabido, ao contrário de Nicolas Sarkozy, agir contra os bancos. Seria mesmo um equívoco? Quem não quer (ou não pode) atacar os pilares da ordem liberal (financeirização, globalização dos fluxos de capitais e mercadorias) é tentado a personalizar a catástrofe, a imputar a crise do capitalismo aos erros de concepção ou gestão de seu adversário interno. Na França, o culpado seria Sarkozy; na Itália, Berlusconi; na Alemanha, Merkel. Muito bem, mas e no resto do mundo?

Em todo o mundo, e não apenas nos Estados Unidos, líderes políticos há muito apresentados como referência pela esquerda moderada também enfrentam cortejos de indignados. Na Grécia, George Papandreou, presidente da Internacional Socialista, está colocando em prática uma política de austeridade draconiana que combina privatizações maciças, supressão de emprego no serviço público e entrega da soberania econômica e social de seu país a uma “troika” liberal.1Os governos da Espanha, de Portugal e da Eslovênia também ajudam a lembrar que o termo “esquerda” está tão gasto que não remete mais a nenhum conteúdo político específico.

Um dos melhores críticos do impasse da social-democracia europeia é Benoît Hamon, atual porta-voz do Partido Socialista (PS) francês. Em seu último livro, Tourner la page [Virar a página], ele destaca: “Dentro da União Europeia, o Partido Socialista Europeu (PSE) está historicamente vinculado, devido ao compromisso que o liga à democracia cristã, à estratégia de liberalização do mercado interno e suas consequências em termos de direitos sociais e serviços públicos. São socialistas os governos que negociaram os planos de austeridade desejados pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional. Na Espanha, em Portugal e na Grécia, os protestos contra os planos de austeridade dirigem-se evidentemente ao FMI e à Comissão Europeia, mas também aos governos socialistas nacionais. [...]Parte da esquerda europeia não contesta mais a concepção de que seria necessário, a exemplo da direita europeia, sacrificar o Estado de bem-estar social para restaurar o equilíbrio orçamentário e bajular os mercados. [...]Em diversos lugares do globo, nós teríamos sido um obstáculo para o avanço do progresso. Eu não aceito isso”.2

Outros, em compensação, consideram a transformação irreversível, pois ela teria raízes no aburguesamento dos socialistas europeus. Ainda que bastante moderado, o Partido dos Trabalhadores (PT) brasileiro acredita que a esquerda latino-americana deve pegar o bastão da esquerda do Velho Mundo, capitalista demais, norte-americanizada demais, portanto cada vez menos legítima na afirmação da defesa dos interesses populares. Em setembro, um documento preparatório para o congresso do PT indicava: “Hoje existe um deslocamento geográfico da direção ideológica da esquerda no mundo. Nesse contexto, a América do Sul se destaca. [...] A esquerda dos países europeus, que tanto influenciou a esquerda do mundo inteiro desde o século XIX, não conseguiu fornecer respostas adequadas à crise e parece entregar-se à dominação neoliberal”.3 O declínio da Europa talvez seja o crepúsculo da influência ideológica do continente que viu nascer o sindicalismo, o socialismo e o comunismo – e que parece, mais que outros, resignar-se com sua supressão.

Presos na lógica eleitoral

O jogo está perdido? Poderiam os eleitores e militantes de esquerda mais interessados no conteúdo do que nos rótulos ter esperanças, inclusive nos países ocidentais, de combater a direita junto com camaradas conquistados pelo liberalismo, mas ainda eleitoralmente hegemônicos? A dança realmente virou ritual: a esquerda reformista distingue-se dos conservadores pelo tempo de uma campanha, por uma ilusão de óptica. Depois, quando chega o momento, ela se põe a governar do mesmo modo que seus adversários, evita perturbar a ordem econômica, protege a prataria do castelo.


Para ler a matéria por inteiro, clique Le Monde Diplomatique

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

LUTA POR LIBERDADE DE IMPRENSA DÁ PENA DE MORTE NOS EUA!

Soldado acusado de apoiar WikiLeaks será fuzilado, se depender dos promotores militares dos EUA - Correio do Brasil - 23/12/2011
O analista de inteligência do Exército acusado de ter entregado arquivos sigilosos ao site WikiLeaks ofereceu “acesso irrestrito” de segredos governamentais a inimigos dos EUA e, por isso, poderá ser condenado à morte, por fuzilamento, segundo um promotor militar. Nesta quinta-feira, um dos advogados de defesa do militar insistiu que o soldado não fez nada de mau.
Essas declarações foram parte dos argumentos finais da audiência para determinar se o soldado Bradley Manning, de 24 anos, deve ser submetido a corte marcial. O advogado de Manning disse que os promotores militares exageraram ao imputar 22 acusações penais contra o seu cliente. Eles alegaram que o vazamento dos documentos não prejudicou a segurança nacional, e que o governo estaria tentando forçar o soldado a se declarar culpado.
– O céu não está caindo, o céu não caiu, e o céu não vai cair por causa do vazamento – disse o advogado David Coombs.
A acusação de auxiliar inimigos pode acarretar a pena de morte, mas a promotoria disse que solicitará, no máximo a prisão perpétua. Coombs disse que a promotoria precisa de um “choque de realidade”, e dedicou seus argumentos finais a tentar convencer a promotoria a pedir no máximo 30 anos de prisão ao acusado.
O tenente-coronel Paul Almanza, responsável pela investigação, irá agora examinar as provas apresentadas na audiência, e em 16 de janeiro entregará um parecer recomendando ou não a instalação de uma corte marcial contra Manning.
O soldado é acusado de ter baixado em um pen-drive mais de 700 mil arquivos sigilosos da SIPRNet (uma internet militar secreta), na época em que trabalhava como analista de inteligência no Iraque. Esses arquivos supostamente foram entregues ao WikiLeaks, que se dedica a divulgar segredos de corporações e governos.
A defesa de Manning tentou retratá-lo como um jovem emocionalmente perturbado, cujos problemas comportamentais deveriam ter levado seus superiores a revogarem seu acesso a informações sigilosas. Testemunhas disseram que Manning enviou um email ao seu sargento contando dos transtornos que uma confusão sobre sua identidade de gênero estaria criando para sua vida, seu trabalho e seu raciocínio. Manning havia criado um alter-ego feminino na internet, chamado Breanna Manning, segundo depoimentos prestados ao tribunal de instrução no Fort Meade, a nordeste de Washington.
O plenário ficou lotado para a audiência de quinta-feira. Um advogado de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, estava presente. A promotoria tentou provar que os dois mantinham contatos pela internet, e que o soldado desmereceu a confiança que havia recebido dos seus superiores.
– Ele deu aos inimigos dos Estados Unidos acesso irrestrito a esses documentos – disse o capitão Ashden Fein, chefe da promotoria.

Colômbia: Condenados 15 militares por assassinato a sangue frio de 5 jovens


Por: Camilo Raigozo

El 21 de diciembre, el juez sexto penal de Ibagué condenó a 15 militares al haberlos hallado culpables de asesinar a sangre fría a 5 jóvenes en el caserío El Totumo, zona rural de la capital del Tolima, el 20 de diciembre de 2006.
Los criminales, integrantes de una patrulla del Gaula del Ejército, interceptaron a los cinco amigos cuando se dirigían a un club campestre a jugar futbol y los asesinaron a sangre fría.
Luego del múltiple asesinato los delincuentes presentaron los cuerpos de las víctimas como extorsionistas “dados de baja en combate”.
El grupo de asesinos estaba conformado por el mayor José Wilson Camargo, el teniente Wiliam Eduardo López, los cabos segundos Darwin Medina Quiroga y Albeiro Buitrago Murcia.
También conformaban el grupo delictivo los soldados profesionales  Carlos Augusto Acevedo Ramírez, Elder Antonio Barreto Sapa, Gregorio Carepa Conde, Silverio Camargo Camargo, José Never González, Hugo López Melo, Renet Max Devia, Mario Pirazán Vanegas, Luis Antonio Silva y Henry Rangel.
Las víctimas fueron: Rubén Fernando Sánchez Morales, Jeison Méndez Zorro, Alexánder Jaramillo Quitora, Dorancé Enciso Medina y Armel Ramírez Lozano.
En la deforma a la justicia mal llamada “reforma a la justicia”, que se tramita actualmente en el Congreso, de mayoría oficialista, se contempla ampliar el fuero militar, que no es otra cosa que otorgarle a los miembros de la fuerza pública licencia para matar, con garantía de impunidad.


Leia também:
Seguridad narcocrática/ Asegurados coronel y 12 militares más por torturas y asesinato a sangre fría
Seguridad narcocrática/ A indagatoria 8 miembros del DAS por tortura sicológica a la periodista Claudia Julieta Duque

Fonte: Notimundo

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Universidade brasileira responsabiliza ONU por surto de cólera no Haiti

Cólera atinge 5% da população haitiana

A Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma), no Rio Grande do Sul, responsabiliza a ONU (Organização das Nações Unidas) pelo surto de cólera no Haiti; a doença já matou aproximadamente 7 mil pessoas e contaminou outras 500 mil no país. A denúncia, de 29 páginas, foi enviada à Comissão Interamericana de Direitos Humanos no dia 30 de novembro.

O processo feito pela instituição gaúcha através do projeto Brasil-Haiti foi baseado em estudos científicos que afirmam que a ONU tem participação efetiva na disseminação da doença, possivelmente transportada ao Haiti por meio de soldados nepaleses a serviço da organização na base militar da Minustah em Mirebalais, onde foi localizado o foco da cólera. Por outro lado, a Organização das Nações Unidas assegura que a epidemia foi resultado da confluência de circunstâncias.
“Até o momento, mesmo com todas as comprovações científicas da origem da epidemia, sequer um pedido de desculpas oficial a ONU formulou com relação à introdução [mesmo que não intencional] dessa doença, que era era registrada país há aproximadamente cem anos”, comenta a advogada e consultora do projeto “Brasil – Haiti”, Maria Carolina Silveira Beraldo. “Trabalhamos intensamente durante quatro meses para finalizar a denúncia, mas o mais difícil será ultrapassar a barreira da imunidade da ONU”, completa.

Indenização
Além do reconhecimento da culpa e do pedido de desculpas ao povo haitiano, a Fadisma reivindica que a ONU repasse US$ 500 milhões para a reestruturação do sistema de saneamento básico do país, bem como a indenização das vítimas e de suas famílias.

“Não podemos assistir passivamente ao que está acontecendo. Nós nos sentimos moralmente obrigados a colocar o instrumento jurídico a serviço da população daquele país”, diz a professora de Direito Internacional e Organizações Internacionais da Fadisma e vice-coordenadora do projeto “Brasil – Haiti”, Cristine Koehler Zanella. “Nossa missão é evitar um silêncio que vem junto com as causas que envolvem as pessoas mais esquecidas do mundo”, acrescenta.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Passagem de Ano

Se fazemos o caminho

                        Fazemos o ano
  
                                     Fazemos o olhar
  
                                                   Fazemos o carinho
   
A guerra também.
   
                    Fazemos o amor e as vestes.
  
                                            Enfim, temos escolha.
                   
Acabou de pousar perto à janela

Um casal de João de Barro

Acho que o casal fará uma casa

Linda

E o ano nem se acabou.

É isso, fazer...

                         Dia a dia

                                  Casas no coração

                        JeanClaudio

NOVO ATAQUE A DIRIGENTE DO MTST NO DF

Contamos mais uma tentativa de homicídio, contra o companheiro Edson Francisco da Silva. A cidade de Brazilândia, onde o MTST tem trabalhos desde início de 2010, praticamente se mostra como território proibido para este companheiro.
Edson é membro da coordenação nacional do MTST e constrói o movimento no DF, ele foi quem teve a casa invadida e alvejada por 18 tiros e conseguiu fugir tendo sido atingido de raspão apenas por um. Isso ocorreu em setembro de 2011. Algum tempo depois, com toda a coordenação do DF sempre preocupada com qualquer deslocamento, o mesmo Edson foi perseguido dentro de Brazlândia e só conseguiu despistar as pessoas na cidade vizinha de Ceilândia.
Esperando que o ano estivesse se encaminhando para o final, depois de o MTST ver como o governo do DF trai os trabalhadores e rompe qualquer acordo, depois de descobrirmos que as operações, sempre ilegais, de despejo que o GDF faz agora são acompanhadas por fotos de coordenadores do MTST, o companheiro Edson estava levando sua vida. Indo de Brazlândia para Ceilândia no início da madrugada de segunda (19/12) para terça ele, que estava de moto, foi surpreendido por um veículo em altíssima velocidade perseguindo-o. Só conseguiu identificar a cor vermelha do carro. Em poucos minutos depois de ter percebido a perseguição, no balão da BR-070, curiosamente próximo da área ocupada em julho deste ano pelo MTST, o carro bate covardemente na traseira da moto, que só não perdeu o controle por muita sorte e força no braço, contudo ela bateu nos meio-fios e no balão o companheiro caiu e foi arrastado na grama, batendo violentamente cabeça, ombro, mão e perna no chão. Os responsáveis fugiram.
Edson foi a um pronto-socorro e, apesar dos ferimentos, passa bem.
Após, foi fazer a denúncia no 24ª DP, delegacia da área. O oficial que iria receber a ocorrência se recusava justificando que a moto não estava no local para ser periciada e outras desculpas. O que surpreendeu, não pelo teor mas por falar daquela maneira, foi quando ele perguntou "Mas se tentaram te matar essas duas vezes você deve ser envolvido com coisa errada, não é não?" "Não senhor, sou só militante de movimento social!" "Há, então..." É essa a visão que o Estado tem do militante, temos certeza também que se o companheiro não fosse negro, ou usasse palavras complicadas o tratamento seria diferente.
Não paramos de lutar, não desistimos, tentaram com este companheiro duas vezes o que só mostra que estamos no caminho certo no DF. Incomodando quem deve ser incomodado e garantindo luta pra todos que quiserem lutar!

UESB: Doutorado em Memória: Linguagem e Sociedade é aprovado com nota 4,0

O Programa de Pós-graduação em Memória: Linguagem e Sociedade (PPMLS/UESB) acaba de ter aprovada sua proposta de Doutorado em Memória: Linguagem e Sociedade. A proposta foi encaminhada à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES/MEC) no início de julho de 2011 e foi analisada e recomendada durante a 132ª Reunião do Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES), realizada nos dias 12 a 16 de dezembro de 2011, em Brasília.
O resultado foi publicado ontem (20/12/201, às 15:29), pela Assessoria de Comunicação Social da Capes.
A coordenação do Programa atribui esta conquista ao trabalho dos docentes, discentes, egressos e ingressos envolvidos que, atendendo às exigências da Capes, participaram e participam desse processo em construção. Profissionais que têm levado sua vida acadêmica com seriedade e dedicação em suas atividades. 
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Profa. Dra. Maria da Conceição Fonseca-Silva
Profa. Dra. Lívia Diana Rocha Magalhães
Coord. do Programa de Pós-Graduação  em Memória: Linguagem e Sociedade
Estrada do Bem Querer, Km 4 - Caixa Postal 95
Vitória da Conquista - Bahia - CEP 45083-900

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

As Regras da Exceção

vithais.com.br

Nadjara Régis*
14 de dezembro de 2011 às 12:59



Em sua obra Psicologia de Massas do Fascismo, Wilhelm Reich, referindo-se a Hitler, afirma que seu êxito não se deveu à sua personalidade. Um pouco antes, à pagina 34 da 3ª edição, publicada em 2001 pela editora Martins Fontes, Reich já havia exposto sua compreensão de que somente quando a estrutura de personalidade do líder corresponde às estruturas de amplos grupos, um “líder” pode fazer história. E mais adiante, à página 38, ele sustenta que foi a estrutura humana autoritária, que teme a liberdade, que possibilitou o êxito da propaganda de Hitler. Neste momento, o que me importa é essa ‘estrutura humana autoritária’. Os autoritários, que se legitimam na sociedade a partir da tentativa de manipulação do medo – o medo da morte – que há em cada pessoa. E quando a sociedade lhe oportuniza o uso dos meios da força, a pessoa autoritária, então, expressa, às avessas, toda sua revolta contra a autoridade a quem costuma ter respeito e submissão.

Fico pensando nessas coisas quando me deparo com situações melindrosamente incompatíveis com o regime democrático constituído desde 1988, no Brasil, capazes de destruir em minutos todas as décadas de pensamento intelectual produzido nacional e internacionalmente e toda a produção legislativa de tratados, acordos e declarações, a respeito dos direitos humanos e das sociedades democráticas. Em 19 de novembro, por volta das 19h45, nas imediações do Max Hipermercado, situado na Avenida Brumado, quatro servidores do Estado da Bahia foram abordados por pessoas que se disseram da polícia:
– Pare o veículo e não olhe para os lados.
– Pára o carro agora filho da puta!
– Virem de costas para a viatura. Coloque a mão na cabeça agora, seu importante!
– Andem de costas, no meio da avenida, ninguém aí olhando pra trás.
– Abram as pernas. Eu quero toda aberta, e quando tiver toda aberta eu quero que abra mais.
– Saia daqui agora, quer levar uma bala na cara, filho da puta.
– Tenente, não tem que dá explicações a ninguém não…
– Engraçadinho…
– Vamos embora!

Fiquei sabendo que durante toda a operação não foi possível aos abordados identificar as pessoas que se diziam policiais. Pessoas inculcadas num espécime de busca paranóica por um veículo Pálio de cor vermelha, e, por isso, conscientemente determinadas em ofender a integridade moral, quiçá física, das vítimas. Sobre o modus operandi deles, sequer as disposições constitucionais que regulam as situações de exceção a direitos e garantias individuais em regime de Estado de Sítio lhes serviriam de justificação.
O que me deixa pasma é que toda aquela “estrutura humana autoritária” foi colocada à disposição da proteção de um bem patrimonial. Pergunto-me: a serviço de que ordem? E foi assim, por uma insurgência irracional, que um diretor de escola estadual, dois professores da rede estadual e um coordenador de hospital estadual viram-se completamente desprotegidos da lei perante figuras de fé pública e porte legal de arma, de modo que fico com a minha convicção de que a sorte teria batido às suas portas se os referidos abordados não fossem, ao cabo, “seus colegas de Estado”.
Esta situação fez-me lembrar um sofrimento por que passei, e que envolveu-me de rancor por uns cinco dias, dos quinze em que me hospedei na Cité Univèrsitaire, em Paris, quando, na saída do Monoprix, uma Loja de Departamento equivalente às Lojas Americanas, aqui no Brasil, fui barrada bruscamente por um segurança armado o qual, baseado em nada, determinou que eu abrisse a mochila para ver se a “turista com cara de estudante” surrupiava alguma mercadoria. Sozinha, em terra estrangeira, nada fiz senão ceder à ‘autoridade’ sem sequer resmungar merecidos impropérios àquele que, revestido de “seu” micropoder, puxava a corda de quem lhe parecia em condição de mais fraco.
Há, pois, um longo caminho cultural para destituir a “família autoritária”, núcleo-base da formação do Estado autoritário, e, assim, resvalar centenas de potenciais “estruturas humanas autoritárias” que inconscientemente promovem o réquiem do totalitarismo em todo o mundo, fazendo com que alguns estudiosos já compreendam o Sistema Internacional de Defesa dos Direitos Humanos como superestrutura de dominação, um discurso falido.
E seja pela história recente de domínio entre países, seja analisando os fatos cotidianos da história da vida privada, é possível perceber ao regime democrático a fragilidade própria de uma borboleta. A violência que se pratica a um, ali, se praticará a outro, acolá, é só uma questão de tempo e de lugar.
Se nas ditaduras a verdade se constrói assimilando-se pelo silêncio o discurso de pensamento único; nas democracias não há verdade sem pensamentos, não há verdade sem palavras. Deixo, aqui, as minhas.


*Nadjara Lima Régis é advogada e Procuradora Geral do Município